quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Rio Araranguá

Rio Araranguá e as suas cores
O rio que no passado tinha duas lindas cores: azul e verde (igual ao Nilo), agora tem três, quatro, cinco...mas de poluição! Do carvão, rizicultura, lixo e do esgoto. O prejuízo ao município de Araranguá não é só ambiental, mas social e econômico também. Centenas de famílias poderiam ter na pesca um complemento à escassa ceia alimentar. A captação de água para o abastecimento público é inviável com o alto índice de acidez. Um crime ambiental óbvio, talvez um dos maiores do Brasil.


Fotos tadeu santos - (proibida a utilização das fotos sem autorização do autor)


(Tópicos abordados na palestra ao curso Engenharia Ambiental / UNESC/Cric. dia 27/09/2002)


RIO ARARANGUÁ E SEUS ASPECTOS
(Tadeu Santos *)




OBS. Este breve relatório sob o enfoque da ONGSN, não é completo e não pretende ir além do objetivo de informar SEUS principais ASPECTOS e denunciar o tratamento dado a maior riqueza natural do município.

Recentemente foi realizada (24/08/2002) uma viagem embarcada no Rio Araranguá (lancha do Presidente do Yate Club Morro dos Conventos), desde a sua foz até seu ponto de início, na junção do encontro entre o principal afluente localizado no lado norte, o Rio Mãe Luzia e o do lado sul, o Rio Itoupava.


CARATERÍSTICAS
O Rio Araranguá encontra-se localizada no Sul do Estado de Santa Catarina entre os paralelos 28° 54’ e 28° 55’ S, no Município de Araranguá e entre os meridianos 49° 18’ e 55° W. É o formador principal da bacia hidrográfica do Rio Araranguá, faz parte do sistema da vertente atlântica, forma com as bacias dos rios Urussanga e Mampituba, a Região Hidrográfica Estadual do Extremo Sul de Santa Catarina


Através de GPS, medimos a profundidade média, que atualmente é de oito metros e quarenta e sete centímetros (8,47), alcançando o máximo de quinze (15) metros próximo a ponte pênsil e no mínimo de três metros e sessenta centímetros (3,6) próximo a barra, com uma largura média de 170 metros e com 36km de extensão até a foz no Oceano Atlântico.

MATA CILIAR

90% da mata ciliar do Rio Araranguá está danificada ou seriamente comprometida. A principal causa foi o devastador programa pró-várzea, que dizimou qualquer vegetação que atrapalhasse a expansão do plantio de arroz. Existem fragrantes de uso ilegal da margem zero do rio, tanto de arroz quanto de milho. No perímetro urbano quase 50% da margem está ocupada com edificações, parte construídas antes de 1988. A partir de 1992 iniciou-se uma ocupação ilegal próximo ao terminal rodoviário chamado de Paraguai, com conivência da Prefeitura, da SAMAE e da Celesc. Somente um projeto sério de educação ambiental poderá reverter o atual quadro, acompanhado de uma rigorosa fiscalização da comunidade e dos órgãos públicos responsáveis. É também uma responsabilidade do Comitê da Bacia Hidrográfica, do Plano Diretor e do Estatuto da Cidade. Entendemos que a EPAGRI também deveria apresentar projetos de recuperação da mata ciliar no espaço rural.


DUAS CORES

Talvez seja um dos poucos rios planeta da Terra que possui esta característica, considerada um raro fenômeno, pois muda de cor até duas vezes ao dia, entre o azulado e o esverdeado, sem considerar o ‘’amarronzado’’ das irrigações do arroz e o amarelado do carvão. (tema de uma questão em vestibular da UFSC). Não existe ainda uma explicação cientifica para o fato, técnicos da UNESC estão estudando o fenômeno. Na cultura popular, afirmam ser devido as algas marinhas que em contato com a água do carvão – pH baixo, provoca uma reação química espetacularmente inédita.



PEIXES
O peixe mais pescado é a tainha, mas encontra-se cará.......já não se sabe, se com pH baixo, médio ou alto. Já alertamos via imprensa que a comunidade pode estar comendo peixe contaminado com resíduos piritosos do carvão ou mesmo com agrotóxico. Os órgãos responsáveis pela saúde publica já deveriam ter realizado análises para certificar-se do mal cumulativo que a coletividade pode estar adquirindo, por falta de informação.


PESQUEIROS
O Ministério Público de Araranguá decidiu demolir todos os pesqueiros/palafitas localizados às margens do Rio Araranguá, para isto, contou com ajuda do Pelotão da Polícia Ambiental e funcionários da Prefeitura Municipal de Araranguá. O procedimento adotado não foi o mais correto para a situação em questão. Entendemos que deveria haver uma discussão ampla com os pescadores, envolvendo os nativos residentes às margens do rio e os ‘’turistas’’ que pescam mais por ‘’hobby’’ do que por necessidade. Poderia ser através de audiências públicas, onde perceberiam a importância da mata ciliar a biodiversidade e para a proteção as cheias, culminando com um ajuste de condutas ou termo de compromisso, de forma a atuarem em programas de recuperação da mata ciliar e educação ambiental.

Se a Promotoria Pública realmente demonstrasse preocupação ambiental, abriria a discussão pública com os órgãos e entidades representativas do Município, no qual poderiam surgir idéias e soluções práticas e sustentáveis, como a construção de pesqueiros coletivos, mas de uso público.


FORMADORES LOCAIS

Cinco córregos são usados para descarregar todos os resíduos que não mais interessam ao consumo humano e industrial dentro do perímetro urbano do município de Araranguá. Obras sanitárias são prioritárias para a saúde pública e a preservação dos recursos hídricos, mas que, infelizmente pouco são construídas, porque os políticos acham que não dá voto.

CARVÃO
O maior problema dos recursos hídricos da região sul de Santa Catarina, são os resíduos piritosos do carvão, principalmente ao Rio Araranguá, que forçosamente recebe toda a carga de poluentes dos seu formadores. Imagem quantas toneladas de resíduos piritosos do carvão já passaram nas calhas do rio Araranguá em mais de 60 da atividade carbonífera. Até o presente momento, os causadores da poluição, nada fizeram pelo sofrido Rio Araranguá.


IRRIGAÇÃO
O intensivo uso da água na irrigação para o plantio de arroz, talvez seja um dos maiores problemas para a integridade dos cursos d’água, devido ao uso do agrotóxico e da grande quantidade de materiais em suspensão que voltam para o rio provocando problemas e contribuindo para o assoreamento da calha dos rios


UNIDADE DE CONSEVAÇÃO

Se tudo correr bem, o empreendedor DNIT, da duplicação da rodovia BR101, em concordância com o IBAMA, deverá acatar a sugestão dos técnicos do BID, baseada no documento reivindicatório da ONG SN, e destinar recursos para a implantação de uma Unidade Conservação – SNUC, no Morro do Conventos, lagoas, incluindo a foz do Rio Araranguá.

DRAGAGEM / ILHAS

A dragagem do ‘’braço morto’’ em Ilhas, para que os pescadores possam sair com seu barcos, iniciou nesta semana, com Licença da FATMA e apoio da comunidade ambientalista. Causará impacto ? Sim. Mas não seria esta ação, uma obra sustentável ?


MANGUEZAL
O Manguezal de Ilhas, que não é reconhecido por alguns Biólogos, está lá sendo depredado pela comunidade, porque não reconhecem a sua diversidade biológica. Alguns afirmam ser o último limite austral da América do Sul, outros afirma ser Marismas. Já era tempo de as Universidades estudarem e definirem o que realmente é o riquíssimo ecossistema encontrado no estuário do Rio Araranguá.


FIXAÇÃO DA BARRA

A fixação da barra é com certeza a obra mais elencada das prioridades do Município, sua concretização beneficiará as atividades da pesca e do turismo, além de reduzir 30% no mínimo o impacto das cheias. Temos conhecimento dos impactos ambientais que uma obra deste porte causa à natureza, mas devemos considerar que o custo beneficio aponta a sua realização, naturalmente que, somente após a conclusão do EIA-RIMA, poder-se-á manifestar-se com mais segurança.

ENCHENTES
As enchentes do Rio Araranguá são conhecidas nacionalmente, primeiro porque interrompe o trafego da rodovia BR101, as vezes até por uma semana, sendo notícia nas principais mídias do país e segundo porque, aqui ocorrem super precipitações de chuvas (600mm) como a do Natal de 95, quando a ‘’nuvem caiu inteira’’ nas encostas da Serra Geral, causando inclusive 19 mortes. Os fatores causadores são os mais diversos, mas poderemos elencar os principais, iniciando com os desmatamentos nas encostas da serra pela ganância das madeireiras, a destruição da mata ciliar geralmente para aumentar a área agriculturável, a ilegal retirada de seixos que altera a dinâmica do fluxo das águas de forma brutal, o assoreamento da calha dos rios provocada pelo resíduos industriais urbanos. Pode haver influência também, a grande quantidade de água usada na rizicultura do arroz, criando imensa lâminas de água que podem, com a evaporação, alterar a climatologia do tempo.


INTER-PRAIAS
A rodovia Interpraias, interferirá no aspecto paisagístico do Rio Araranguá, com a construção da ponte próximo ao atual percurso da balsa. Estamos questionando junto ao DER, a alteração da altura do vão proposto inicialmente no EIA-RIMA, de 30 metros, com condições de navegabilidade para barcos grandes de pesca ou turismo (naturalmente depois da barra fixada). O DER, rebaixou para 18 metros inviabilizando a passagem, inclusive de pequenas embarcações. Na verdade, a melhor alternativa (ecoturística) de passagem seria uma super – balsa.


ACESSO NORTE

Obra desnecessária e de alto custo, nunca foi elencada como prioritária pela comunidade. Consideramos sua eventual construção, um capricho do atual Prefeito. No local proposto causará represa nas cheias do Rio Araranguá, prejudicando e alagando os bairros da Baixadinha e Barranca. Somente um viaduto de aproximadamente 1 km poderia não causar obstáculo.

DESVIO OESTE DA DUPLICAÇÃO DA BR-101

Com a duplicação da rodovia BR101, será construída mais uma ponte, a 1800 metros a oeste da atual. De acordo com o projeto, as cabeceiras ficarão dentro dos 30 metros da margem, portanto com impacto sobre a mata ciliar. Entendemos que o aterro proposto para o desvio é perverso e suicida. Já denunciamos aos órgãos responsáveis.


MATA ATLÂNTICA

Os remanescentes da Mata atlântica na bacia do Rio Araranguá, destacando-se a do Maracajá com 104 hectares, a da Vila José com 60 hectares, a da Canjica com 75 hectares e a do Fundo Grande / Caverá com aproximadamente 1000 hectares.




///////////////////////////////////////////////////////////////////


RIO ARARANGUÁ: POLUIÇÃO E OMISSÃO.



Os principais representantes dos setores que mais despejam rejeitos poluidores no rio Araranguá (SIECESC do carvão, sindicatos da rizicultura, municípios da AMREC e AMESC) deveriam ser convidados pela Administração Municipal de Araranguá para conversar cordialmente sobre ‘’políticas de boa vizinhança’’, mostrando o prejuízo que causam a natureza e a economia do município de Araranguá. Além dos intensos conflitos causados à agricultura, ao turismo e ao abastecimento da população, a pesca é a mais afetada, pois o baixo pH da água não permite nenhum desenvolvimento ao setor e, pior ainda, tira criminosamente a possibilidade de centenas de famílias buscarem na pesca uma ajuda complementar na cada vez mais difícil ceia alimentar.



Quando o rio Iguaçu, na divisa entre Santa Catarina e Paraná, ficou poluído pelo derrame de óleo, foi considerado um ‘’desastre ecológico’’ e o responsável foi multado em 50 milhões, aqui ‘’o desastre ecológico é maior e permanente’’ (lá já deve estar recuperado) e os potenciais e comprovados poluidores, as mineradoras, não são multadas, ficam cada vez mais poderosas com ‘’privatização do lucro e socialização da poluição’’, pois não investem em recuperação ambiental, mas em comunicação (rádios e jornais), rede hoteleira e nas milionárias termelétricas (...e para os mineiros: o pior ambiente, a insegurança, a pneumonoconiose e a ‘’precoce aposentadoria grega’’).


Os donos de minas (SIECESC) possuem um poderoso lobby logístico que envolve quase todos os políticos, governantes e grande parte da mídia regional, com a função de defendê-los em qualquer situação, custe o que custar e, sempre que possível, neutralizar a ação dos que defendem o meio ambiente, como no caso dos Sócios da Natureza, visivelmente boicotado pela mídia regional / estadual, além dos ocasionais constrangimentos que sofremos na árdua luta estritamente voluntária em defesa da natureza e de uma melhor qualidade de vida para a região.

A ‘’contaminação do carvão” já atingiu os ‘’corações e mentes’’ de alguns araranguaenses. O comando do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá foi ‘’maquiavelicamente conduzido’’ em 2004 a um representante do setor carbonífero, com ajuda de entidades ‘’políticas’’ de Araranguá; recentemente um professor da rede municipal de Araranguá levou seus alunos a SATC - o QG do carvão e, um colégio privado de Araranguá fez convênio com o mesmo; por outro lado, político de Araranguá fez questão de divulgar intensamente que ‘’baixou mina’’, entre tantas outras ações que vêem sendo articuladas por araranguaenses para o fortalecimento da mineração do carvão, que comprovadamente tanto prejudica o nosso caudaloso rio Araranguá. Alertamos que o cenário descrito faz parte de uma estratégia muito bem articulada e planejada para a abertura de minas de carvão em solo araranguaense, começando pelas Canjicas e Morro dos Conventos.


O Rio Araranguá perdeu sua brilhante e exclusiva característica de apresentar num mesmo dia duas cores, azul e verde. Agora também tem marrom, preto e amarelo. Utilizado pra navegação e com abundância de peixes, hoje lamentado em versos e poesias, descrito como exemplo de descaso e poluição em livros, monografias, doutorados e outros trabalhos científicos e lembrado pela grande maioria da população, pelos governantes e políticos, apenas no dia mundial do meio ambiente, no dia da água e de outras datas simbólicas. Além de ser usado governamentalmente (Provida, FNMA, JICA e Comitê Gestor) na busca de recursos que nunca chegam a beneficiar de fato a bacia hidrográfica, conseqüentemente o Rio Araranguá.


Enquanto persistir a perversa acidez nas águas do rio Araranguá, não tem como o setor carbonífero ficar alegando e mentindo que está recuperando ou adotando novas tecnologias na extração do carvão, pois o baixo pH constatado nas águas do rio Araranguá sempre será a prova referencial deste monstruoso crime ambiental.

Brilhantes textos do saudoso Ernesto Grechi Filho, já alertavam na década de 70 da impossibilidade de instalação de uma fábrica de sardinha em Araranguá, por causa da poluição do carvão. Em 1982, um abaixo assinado com 30 mil assinaturas pedia a despoluição do rio Araranguá. Na década de 90 várias ações foram impetradas contra os degradadores ambientais. Até o presente momento não deram em nada!


Esta brutal e flagrante agressão aos recursos hídricos do Rio Araranguá precisa ser encarada e debatida imediatamente pelas autoridades e pela população. Algum plano ou projeto precisa ser levado a sério para buscar a recuperação e revitalização do Rio Araranguá. Chega de omissão e poluição!


Tadeu Santos
Sócios da Natureza
Araranguá SC, 22/01/2006.


O rio que no passado tinha duas lindas cores: azul e verde (igual ao Nilo), agora tem três, quatro, cinco...mas de poluição! Do carvão, rizicultura, lixo e do esgoto. O prejuízo ao município de Araranguá não é só ambiental, mas social e econômico também. Centenas de famílias poderiam ter na pesca um complemento à escassa ceia alimentar. A captação de água para o abastecimento público é inviável com o alto índice de acidez. Um crime ambiental óbvio, talvez um dos maiores do Brasil.

Quem sou eu

Minha foto
Nascido em 22/07/1951, em Praia Grande/SC, na beira do rio Mampituba, próximo às encostas dos Aparados da Serra, portanto embaixo do Itaimbezinho, o maior cânion da América do Sul, contudo, orgulha-se de haver recebido em 2004, o Título de Cidadão Araranguaense. Residiu em Fpolis onde exerceu por dez anos a função de projetista de edificações e realizou o documentário em Super 8 sobre as eleições pra governador em 1982, onde consta em livro sobre a história do Cinema de SC. Casado, pai de dois filhos (um formado em Cinema e outro em História) reside em Araranguá. Instalou uma das primeiras locadoras de vídeo do estado. Foi um incansável Vídeomaker e Fotógrafo. Fã de Cinema sempre. Ativista ambiental da ONG Sócios da Natureza (Onde assumiu a primeira presidência do Comitê da bacia hidrográfica do rio Araranguá – na época um fato inédito no ambientalismo). É um dos autores do livro MEMÓRIA E CULTURA DO CARVÃO EM SANTA CATARINA: Impactos sociais e ambientais. www.vamerlattis.blogspot.com